Tenho prestado atenção no noticiário político nacional e, confesso, continuo sem ter qualquer expectativa de que o país possa avançar na direção que eu gostaria, qual seja, no rumo da construção de um estado fraterno, menos torto, menos "campeão" de desigualdade social, de partilha de renda e riqueza e de mortes violentas de jovens.
Enfim, um país menos excludente, menos reacionário, menos preconceituoso e mais afeito ao entendimento e à compreensão das diferenças. Um país no qual rechaçar tudo que é diferente de nós ou que conflite com nossos pontos de vista não seja regra geral. Gostaria que o país avançasse no rumo do desenvolvimento social e econômico, que investisse - bem! - em educação, em infraestrutura, em saúde e gastasse menos com a agiotagem disfarçada de investimento.
Gostaria que deixássemos de usar a metade no orçamento federal para pagar a interminável e crescente dívida interna resultante da tomada de recursos de especuladores financeiros, que não tem quaisquer compromissos com o país e com o futuro dos brasileiros. Gostaria que o país avançasse nas reformas que são efetivamente indispensáveis, como, por exemplo, a reforma política, sempre postergada na salvaguarda dos interesses das elites que controlam os mecanismos de produção legislativa e de divisão dos recursos econômicos advindos do nosso trabalho. Ou uma reforma agrária séria - reforma agrária é, ao contrário do que pensam alguns, um processo capitalista -, que nunca foi feita.
Ou uma reforma tributária que mudasse a dramática e injusta situação atual, em que uma carga tributária mal repartida onera quem menos pode e menos grava quem mais deveria contribuir para formação do bolo tributário que sustenta os entes federativos. Gostaria que o país avançasse, de forma desapaixonada e racional, na discussão de temas como a descriminalização das drogas e a transformação de seu consumo em problema de saúde pública e não simplesmente em caso de polícia.
E que na esteira de uma nova política de drogas, se agravasse de forma drástica o tráfico, de sorte que se pudesse trancafiar os barões da produção e distribuição e não apenas os miseráveis, de tudo deserdados, cooptados por eles em razão da criminosa omissão do Estado. Gostaria de uma reforma previdenciária, que se escudasse na realidade e não na falácia transformada em verdade pelos grandes grupos de mídia brasileiros e pelos bancos e instituições financeiras interessados na privatização da Previdência.
E mais, gostaria que se reformulasse, aperfeiçoando-as, as legislações penal e processual a ela aplicável e que se tivesse um sistema carcerário capaz de cumprir minimamente os preceitos civilizados de dosimetria e aplicação das penas.
Sei que nada disso acontecerá e que, daqui a quatro anos, continuarei (ou alguém, em meu lugar, continuará) a bradar pelas mesmas causas, pelos mesmos puídos sonhos e que, infelizmente - se não piorar, o que é provável - "tudo continuará como dantes no quartel de Abrantes" ou, adaptando o dito à situação concreta do país, no quartel de Bolsonaro.